terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Não lamentes ter dado demais
Lamenta antes os gestos que não ofereceste

Tudo o que é dado com sentido potencia expressão
Porque é da expressão que nasce expressão

Não deixes de acreditar na profundidade

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Stay hungry, stay foolish

Steve Jobs, que ontem deixou de viver, deu este mote ao discurso de formatura proferido em Stanford. Deixo algumas reflexões e o vído para homenagear um homem que certamente ficará para a história e que aqui dá provas de que o importante é a força interior, a confiança mais do que as oportunidades.


A vida acontece-nos apenas uma vez.
Reconheci neste discurso a força de quem tem essa consciência e a certeza de que podemos fazer algo para sermos felizes.
As palavras que escolho: amar, agir, viver com e para os outros.





Viver na solidão é morrer ainda em vida. Os outros podem magoar, confundir, dizer o que nos é contrário, mas é através deles que consigo realmente descobrir o que amo (o meu trabalho, os meus hobbies, os que me rodeiam) e agir para viver o melhor possível.

Mantenhamos sempre a sede (ou fome) de continuar para a frente e permanecer com uma boa dose de alegria.
A vida é séria, por vezes queremos recomeçá-la quando na verdade o que precisamos é de a reorientar.
Recomeçar é cortar com o passado, reorientar é reconstruir com a matéria do presente necessariamente enriquecido com tudo o que foi passado (unir os pontos como diz Steve Jobs)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Paixão e Amor

Diferentes modos de possuir e de ser cativo
Diferentes químicas
Diferentes

Igualmente intensos
Igualmente fortes
Iguais

Tudo ou tudo

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Tudo e nada

As tempestades da alma prendem ao incerto e indefinido o corpo com ânsias de sentido.

Tudo cai com a morte.

Tudo se perde com o desaparecer.

Ninguém é essencialmente insubstituível. Ninguém é essencialmente essencial. Todos somos nada sonhando ser tudo.

domingo, 17 de julho de 2011

Rumos

Soletrar entre o verde palavras que não se vêem
Tocar o indistinguível
Voltar a
De outra forma

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sonhar outro futuro

esgotaram-se as personagens...

urge inventar outro sonho, outro futuro, outro algo

para além de

Datas

São o que são, as datas. Pouco. Mas fazem parte da nossa história, elementos da teia que nos sustenta.

Hoje recordo as emoções, os sonhos... o caminho construído.

Caminho novo e único. A possibilidade edificada...
O vazio nas extremidades. Temos material para continuar. Cabe-nos a decisão.
Juntos, partilhando os medos, acreditando.

re-utériner


le vermeil utérin embrasse ton corps aujourd'hui adulte
Rentrer à nouveau dans cette maison d'une sonorité oubliée
Re-utériner au lieu de renaître

Absurdos

Um sentir que me falta, me prende não sei como
Quero ser o que não sou e sou incapaz de ser o que quero
Meu corpo é-me estrangeiro e repilo teu corpo que me quer consolar

Na solidão mais obscura procuro companhia. Uma companhia que me deixe só...
Ocupo um espaço que não sei habitar: impenetrável, invisível, inaudível
Cercam-me abismos e meus olhos cerrados não vêem pontes

Prisioneiro de mim divago, derivo

A certeza da morte impede-me de viver
Os infinitos possíveis obnibulam o possível finito

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Do outro lado

Do outro lado da página há um estranho vazio, uma espessura outra que faz tremer os membros.

Procuro a fluidez do reencontro, o caminho da palavra, as vertentes do olhar

Do outro lado da página, a história escreve-se

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Corpo queimado

«Despe-te! Não há outro caminho.» E. de Andrade

Jaz um corpo no chão.
Em parte nu, em parte vestido.
A pele queimada,
ferida
por tão violento incêndio.

Nos olhos entreabertos o medo
Medo de ser tocado. Tudo dói
Medo de ser despido. Já não é corpo o que resta.
Medo de ser levado dali. Não há lugar onde.

A saliva e as lágrimas que foi vertendo no seu solitário e silencioso pranto cairam na terra seca.
Talvez algo

Fragmentação

Há quem veja na fragmentação a única possibilidade de sobrevivência.

Talvez acreditar na unidade,
na inteireza
não passe de um mito
que só ilude quem consente apaixonar-se

Preciso fragmentar-me para não me destruir

Estranhos jogos agradam as almas

A criança segura um gelado
na mão
não pode comê-lo

Dizem que se conseguir não comer ganhará

Um corpo junto de outro corpo
na cama
não podem tocar-se

Perde-se sempre

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O teu livro

Li o teu livro, Amor, sofregamente;

Li-o, e nele em vão me procurei!

No teu livro d’amor não me encontrei,

Tendo lá encontrado toda a gente.

Um livro é a nossa alma, nunca mente!

Um livro somos nós, eu bem o sei…

E se em teus lindos versos não me achei

É que a tua alma nem sequer me sente!

As rosas do teu livro! As tuas rosas!

Rubros beijos de bocas mentirosas,

Desfolhaste-as por todas as mulheres!

Mas deixa, meu Amor, mesmo pisadas,

As tuas lindas rosas desfolhadas

Eu apanho-as do chão, se tu quiseres…

Florbela Espanca


Mesmo imperfeitas, as palavras são as nossas pétalas
Precisamos tocá-las explicá-las e compreendê-las.
Nem sempre o que parece é e mesmo o que é, é-o diferentemente em silêncio ou por palavras

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Se repérer

Dans le silence ou par la parole plonger dans le visage
le tien le mien

Pour savoir où j'en suis

Tension

It's hard to believe that no body doesn't mean nobody.

au clair de la lune

La brumeuse lumière de la lune
chante

une berceuse souhaite bonne nuit
aux âmes sensibles

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Gramática do amor

Algumas preposições, substantivos que baste e adjectivos "à volonté".
Conjunções e advérbios com moderação.

Tudo sempre em discurso

Assim poderia ser o amor

terça-feira, 10 de maio de 2011

Lost

Ser com
para
de
por
até
entre
sem
em
sobre

Perdida no labirinto das preposições de Ser

sábado, 30 de abril de 2011

Conto

Era uma manhã ou era uma tarde. Havia vento ou talvez não.
Um corpo interrogava-se sobre o não-sentido ou sobre o sem sentido e despia-se lentamente.
Só, líquido.

Inventar sentidos

Depois da nudez
depois do vazio
depois de

Um novo sentido aguarda
deixa que ele te surpreenda

Ou deixa que os teus sentidos o inventem

Ainda vives
Ainda vale a pena
Ainda é possível

Deixa-te sentir

terça-feira, 19 de abril de 2011

A Paixão


Levanto a custo os olhos da página;

Ardem;

Ardem cegos de tanta neve.

Faz dó esta paixão pelo silêncio,

pelo sussurro do silêncio,

pelo ardor

do silêncio que só os dedos adivinham.

Cegos, também.[1]


[1] Eugénio de Andrade, “Paixão”, O Outro Nome da Terra


presque haiku (2)

Souffle l'absence
dans le creux de la main

Le bout des doigts longe l'absolu

presque haiku

Entre la goute et la feuille
un infime espace

quase silêncio

Respira o sol
entre as palavras
Floresce
o ser

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Le corps


Toucher le corps
le mien, le tien

Secouer la peur de plonger dans l'abîme

de l'effacement

domingo, 17 de abril de 2011

Segredo

«Oferece o teu hálito ao presságio
para além do limiar das palavras
para transformar o segredo incomunicável
na iniciativa de um gesto inaugural
[…]
talvez tudo desapareça
mas na cal subsistem as ranhuras
que formam uma teia minuciosa e frágil
mesmo com a cabeça na pedra tu pressentes
a caligrafia primaveril do indizível»

António Ramos Rosa, Polén Silêncio

Como romper o silêncio

[…]

Mas como romper este silêncio esta mudez do silêncio

como descobrir essa outra língua sobre a pedra

como sulcar esta outra terra interior

como descobrir esse outro rosto do outro lado

como erigir o campo nestes campos sombrios

obscuridade obscuridade mudez do silêncio cinza e cinza[1]



[1] António Ramos Rosa, “Ardem os tentáculos do polvo e arde a rosa”, As Marcas no Deserto, Lisboa, Vega, 1980, p. 59.